Aluna da UNIP realiza trabalho voluntário no México

A aluna Suelen Marcolino, do curso de Relações Internacionais, campus Paraíso, contemplada com bolsa de estudo pelo Programa de Bolsas Ibero-Americanas Santander Universidades, em conversa com a professora Laura Ancona Lopez Freire, diretora do Setor de Relações Internacionais da UNIP, falou sobre o trabalho voluntário realizado no México.

Suelen relatou que sempre teve em mente a importância do trabalho voluntário e o poder que a sociedade civil tem de mudar vidas. Como profissional da área de Relações Internacionais, a questão imigratória sempre lhe chamou muito a atenção.

“Antes de ir para o México, eu já desenvolvia um trabalho voluntário em uma instituição que presta auxílio a refugiados e solicitantes de refúgio no Brasil. Quando cheguei ao México, procurei uma oportunidade na área de imigração da universidade para a qual fui enviada. Fui apresentada pelo Tec de Monterrey à Estancia del Migrante González y Martínez. A Estancia está situada na cidade de Tequisquiapan e atua na ajuda humanitária e na assistência social aos imigrantes sem documentos que estão de passagem pelo estado de Querétaro”, contou.

Ela disse, ainda, que teve oportunidade de conhecer pessoas operantes na mesma causa. “Lá conheci Dom Martin e sua esposa, a senhora Carmen, que há 13 anos trabalham em prol dos direitos humanos dos imigrantes. Conheci Claudia Léon, internacionalista e cofundadora da instituição, e muitos outros voluntários, dentre os quais as filhas, o genro, os netos e os amigos do casal, além de estudantes mexicanos e estrangeiros, todos envolvidos para fazer valer os direitos humanos nesta questão tão delicada que é a da imigração”.

Os imigrantes, de passagem pelo território mexicano, são em sua maioria centro-americanos que, em busca de melhores condições de vida e da realização de seus sonhos, se perdem sobre os trilhos da “Besta”, como costumam chamar os trens de carga que partem de seus países de origem e nos quais viajam, muitas vezes, rumo aos Estados Unidos.

A Estancia tem desempenhado um papel fundamental no debate sobre a questão da imigração junto às autoridades, na tentativa de conscientizar a sociedade sobre a temática, visto que o preconceito tem sido uma forma de violência constante contra os imigrantes. O trabalho realizado por eles é o de auxiliar os imigrantes em caso de necessidades médicas e psicológicas, ou no que se apresente. Para isso, o grupo conta com uma rede informal de contatos. Observa-se, também, que a instituição, que não tem fins lucrativos, sobrevive de doações, ocupando instalações restritas e, ainda, contribui, de maneira significativa, à promoção do debate em prol dos direitos humanos.

“Logo que cheguei à Estancia, fui contagiada pela alegria com que os voluntários dedicam seu tempo e a sua força de trabalho em uma antiga e pequena construção à beira na linha do trem. Essa construção conta com uma saleta, onde são guardados os mantimentos, diretamente doados ou comprados com recursos provenientes de doações. É onde são montados os “kits”- sacolas contendo pães, frutas e água - que mais tarde serão lançados aos imigrantes no trem que atravessa o México de ponta a ponta, em geral ainda em movimento e em alta velocidade. Lá também tem uma pequena cozinha, usada para fazer a alimentação dos voluntários, que passam o dia ali, e refeições para imigrantes, que eventualmente baixem dos vagões. Não há banheiros ou qualquer tipo de luxo, apenas a vontade de mudar uma dura realidade”, descreveu.

Ao se deparar com a presente situação, Suelen registrou em seu diário a seguinte passagem:

Enquanto aguardamos a passagem da ‘Besta’, conversamos sobre os temas mais variados. Rimos. Trocamos experiências. Falamos do futuro, aguardando ao longo da linha do trem. Quando a vemos despontar, imediatamente dispomos os kits montados com antecedência e nos colocamos a postos ao longo da linha. Não é possível ver rostos a esta velocidade, mas é possível notar os trajes velhos e a precariedade com que viajam. Hoje, cerca de 150 imigrantes passaram em alta velocidade. Com braços estendidos, na esperança de conseguir agarrar uma sacola eles se arriscaram, e boa parte, desta vez, não conseguiu nada; eram muitos, e em questão de segundos perderam a chance. Saímos depressa, tentando chegar a uma estação não muito longe dali, onde provavelmente o trem iria parar e eles iriam baixar. Chegamos com 3 ou 4 minutos de antecedência. O sol já havia se posto. O trem parou. Começamos a caminhar ao longo da linha e aos poucos vimos silhuetas descendo dos vagões e vindo em nossa direção apressadas. Uma vez mais não pudemos ver rostos, já era noite, mas foi possível perceber que havia velhos, jovens e vultos quase infantis. Entregamos os mantimentos a cada um que se aproximava. Sabe-se que não possuem uma alimentação regular, que atravessam o país em condições precárias e que, ao longo da viagem, ficam sujeitos não só aos perigos de viajar como se fossem uma carga, mas à violência, aos roubos, e ao aliciamento forçoso pelos narcotraficantes. Esta poderia ser, portanto, a sua primeira “refeição” em dias. Quem sabe quando poderão comer novamente? Transitamos ao redor dos vagões e ofertamos o que trouxemos às mãos que surgiam ansiosas. Nunca em minha vida ouvi tantos ‘Gracias’, ‘Dios te bendiga’, e nunca me senti tão útil. Tão viva.”

“Ouvi de dona Carmem muitas histórias: a da mãe que adormeceu durante o trajeto e acordou sem seu bebê nos braços, sem saber se lhe fora roubado ou se havia caído sobre os trilhos; a do rapaz de 17 anos que caiu de um dos vagões da “Besta” e, atropelado por ela, precisou amputar as duas pernas longe de casa, sem família e sem dinheiro; e as inúmeras histórias de abusos contra as mulheres que se arriscam nestes perigosos trajetos, ou das mães que vão ao México em caravanas à procura de filhos que saíram de seus países, em busca de um futuro digno ao norte do continente e que nunca mais foram vistos. Histórias como estas fazem parte da difícil realidade dos imigrantes e da rotina daqueles que trabalham para mudar essa realidade tão dura”, concluiu.