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BOURDIEU, Pierre. 'Gostos de classe e estilos de vida'. in: Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

Pierre Bourdieu, sociólogo francês que se dedica a um estudo pormenorizado do caso social francês tem na moda, gosto, estilo, etc. casos exemplares para o seu estudo. Sua conceitualização é um importante instrumental para os pesquisadores que desejam estudar a moda sob uma perspectiva socio-cultural mais profunda.

Neste texto especificamente ele trata do estilo de vida e do gosto. Estilo de vida é a retradução simbólica das diferenças que existem de fato na empiria, ou seja, o 'habitus' - outro conceito do autor - gera não só o que cerca os sujeitos e grupos (casa, roupas, distintivas), mas o seu Estilo de vida: Portanto, podemos colocar que o estilo de vida são as preferências distintivas que a intenção expressa em cada campo simbólico que se manipula e/ou adentra (mobília, vestimenta...).

O autor está tratando de coisas emblemáticas e não de elementos sutis, que ele não despreza, mas que deixa neste momento um pouco de lado (leia-se que elementos emblemáticos são símbolos de leitura rápida sobre a distinção). "O luxo e a necessidade"

Vivemos numa sociedade sem urgência de necessidades. As classes populares investem em bem mais duráveis dos que utilizados pela classe média que consome mais o que está na moda. Os grupos constituem e investem na diferença (identidade para Bourdieu). Pode-se usar o mesmo uso/utensílio/fala, mas o que cada grupo entende, confere de sentido é diferente e exprime a sua identidade. A experiência estética só se constitui no mundo sem a urgência da razão prática, necessária.

Nos vestimos não por uma necessidade, mas como exercício escolar de contemplação de obras de arte. Necessidade (cultural) de exibição da liberdade e de consumir algo que se não fosse consumido não afetaria a existência prática...

"Nada distingue, com efeito, mais rigorosamente as diferentes classes do que as disposições e as competências objetivamente exigidas pelo consumo legítimo das obras legítimas" (89).

Quando a obra não faz parte do seu universo de distinção você até pode estruturar algum tipo de percepção, mas não perceberá os detalhes e nuances que nela existem, pois não se têm os meios para apreender as propriedades distintivas do modo e do estilo. 'Conhecimento' que provém das relações que se estabelece internamente em seu estilo de vida.

O estilo de vida é constituído de muitas variáveis:

  • Escolaridade
  • Ocupação profissional
  • Capital cultural hierarquiza
  • Classe Social
  • Religião

Gosto:

"É preciso ter presente no espírito o fato de que, ainda que se manifeste como universal, a disposição estética se enraíza nas condições de existência particulares e de que ela constitui uma dimensão, a mais rara, a mais distintiva, a mais; distinguida, de um estilo de vida." (121).

Bourdieu, Pierre. 'Metamorfose dos gostos'

O autor neste texto fala sobre como o conjunto de práticas sócio culturais formam o grupo de propriedades que uma pessoa (e geralmente o grupo em que ela vive) gosta, são desencadeamentos de seu capital cultural. Como os objetos de sua eleição possuem afinidades eletivas (harmonia) com sua carga afetiva.

Bourdieu, Pierre. 'Alta costura e alta cultura'

Ao mesmo tempo que estudiosos em humanidades sempre apontaram para a importância de se estudar a moda, de certa maneira prestigiando o tema. Poucas vezes, no entanto, teve a real dedicação de grandes pensadores. Isto é, dentro da tradição sociológica é sempre usada como exemplo ou como um campo rico a ser estudado.

"Acho que este preâmbulo não é inútil pois se quero comunicar alguma coisa esta noite é justamente a idéia de que há lucros científicos ao se estudar cientificamente objetos indignos." (154) Pierre Bourdieu nos coloca como é possível uma etnografia de Dior ou Cardin. Pois, é uma das disposições do instrumental etnológico nos 'aproximar' de elementos que nos caros em grupos outros e justamente nos 'afastar' daqueles elementos que nos são próprios. A intenção é repensar e incomodar forçando outros pesquisadores (sociólogos e antropólogos) a repensar a sociedade em que vivem. Desnaturalizar algo tão cotidiano como a moda.

O autor, então vai fazer uma boa discussão sobre o campo da Alta-Costura. Essa constituí-se da competição pelo teor de grife (capital simbólico pelo qual lutam). No qual os antigos elaboram estratégias de conservação e os recém-chegados estratégias de subversão. As mudanças (revoluções) internas de um determinado campo, fala sobre uma sincronia com o universo que engloba este campo. Percebemos uma estrutura dinâmica no campo da Alta-Costura.

Portanto, rapidamente podemos dizer que o campo da moda é um intermediário teórico entre dois movimentos que são muito diferentes.